Adriane Garcia

Antropoceno, poesía brasileña


Antropoceno    



 
Está pareciendo que yo odio a la humanidad 
Desde que vi las morsas cayendo de montañas 
Donde nunca deberían haber subido 
Las morsas rebotando 
Una, dos , tres veces y cayendo desparramadas 
En medio de la multitud de morsas  
En la costa de Rusia, yo que nunca estuve allá 
Lloré como quien ha llegado a amar solamente 
A los animales 
Y las plantas que cultivo en mi departamento 
Bajo un pedacito de sol
Que los arquitectos dejaron por compasión
O por olvido
Supe entonces que faltaban glaciares a las morsas
Y que ellas ahora se daban vuelta en las piedras
Amontonadas, que algunas subían a las montañas y
El resultado ya lo dije
Ellas caen y está pareciendo que yo
Odio a la humanidad
Como si yo no supiera que la gente
También es animal
Como si no entendiese que es preciso amar
A mi propia especie
Está pareciendo que yo no comprendo
Que nosotros caemos cuando la morsa cae.



Antropoceno




Está parecendo que eu odeio a humanidade
Desde que vi as morsas caindo de montanhas
Em que nunca deveriam ter subido
As morsas quicando
Uma, duas, três vezes e caindo estateladas
No meio da multidão de morsas
Na costa da Rússia, eu que nunca estive lá
Chorei como quem passava a amar somente
os bichos
E as plantas que cultivo no meu apartamento
Sob um pedacinho de sol
Que os arquitetos deixaram por compaixão
Ou por esquecimento
Soube então que faltavam geleiras às morsas
E que elas agora se viravam nas pedras
Amontoadas, que algumas subiam as montanhas e
O resultado já disse
Elas caem e fica parecendo que eu
Odeio a humanidade
Como se eu não soubesse que gente
Também é bicho
Como se eu não entendesse que é preciso amar
A minha própria espécie
Fica parecendo que eu não compreendo
Que nós caímos quando a morsa cai.


ADRIANE GARCIA (1973,  Belo Horizonte, Minais Gerais, Brasil)
Traducción: Ricardo Ruiz
Enlaces:  Vallejo & Co. | Redesina
Imagen en Rascunho

0 Comentarios