Salgado Maranhão

Salgado Maranhão


Lacre 1     



  
Una larva de espino 
que ha mordido el sueño Y 
atravieso la noche 
sangrando pétalos. 
Como estos 
que alumbran mis arcoíris 
—a través de los ojos— 
 
duermo bajo la Vía Láctea 
y la cortesía de los depredadores. 
 
Desolada en su propio 
cuero,  
gime la poesía 
a las puertas del matadero. 



Lacre 4     




Así hecho un perro 
que muerde la sombra, 
la boca de la calle 
                                lame 
la cicatriz de la noche sin cerrojo;
la repartición de eldorado entre víboras.

Así hecho esfinge
                                de sombras
a hurtadillas, nada
resiste a esa mirada solitaria:
ni la luna entre cadáveres
ni la última «Flor del Lacio».

¡Oh costra de la memoria en llamas,
que nos funda y extingue
en trama, en tiniebla, en Troya!

Del otro lado de la lágrima,
una araña insondable
                                          teje el día.



La hija de Atlas




¿De dónde emergerá el sueño
de Platón,
                    en ese atlas sin Atlántida?

¿De qué noche de la memoria
o sangre, o siglo?

Duerme la Historia
en nuestro suelo de estiércol,
ciega de locuras y arquetipos.

El resto de la fábula,
que atraviesa los mares
buscando un rostro.



3. Desnudez




Están por todas partes
esas estaciones heridas
por la puesta de sol. Asustadas

Por la dramática llamada
Del fin (y el frío
Que debilita las palabras).

No pregunta al río
El camino de las aguas,
apenas salva el fruto
de su desnudez.

Aunque el amor ofídico
repte bajo los tulipanes,
la vida baila
                         Hasta cuando envenena.



14. Escisión




Canto para renacer
en la piedra
con la simiente que el mar
robó a los náufragos; canto
para repartir con la brisa
la lúdica sesmaría de la palabra.

Un atlas abrigó sus ramas
para acoger mis reinos:
una geometría de harapos;
un tigre con el sol entre las patas.

Y sigo en ese río de letras
cual tierra en llamas:
la poesía me desnudó
para explotar con los astros.



       

Lacre 1




Uma larva de espinho
mordeu-me o sonho. E
atravesso a noite
sangrando pétalas.
Com essse uns
que alumbram meus arco-íris
—a través dos olhos—

durmo sob a Via Láctea
e a cortesía dos predadores.

Desolada em seu próprio
couro,
             geme a poesía
na porta do matadouro.    



Lacre 4




Assim feito um cão
que morde a sombra,
a boca da rua
                         lambe
a cicatriz da noite sem ferrolho;
a partilha do eldorado entre víboras.

Assim feito esfinge   
                                   de sombras
na espreita, nada
resiste a esse olhar recluso;
nem a lua entre carcaças,
nem a última «Flor do Lácio».

Ó crosta da memória em chamas,
que nos funda e finda
em trama, em treva, em Tróia!

Do outro lado da lágrima,
uma aranha insondável
                                               tece o día.



A Filha de Atlas




De onde emergirá o sonho
de Platão,
                   nesse atlas sem Atlântida?

De qual noite de memória
ou sangre, ou século?

A História dorme
em nosso chão de esterco,
cega de insanias e arquetipos.

O resto é fábula,
que atrevessa os mares
procurando um rosto.



3. Nudez




Andam em toda pate
essas estações feridas
pelo pôr do sol. Assustadas 

pelo dramático apelo
do fim (e o frio
que adolece as palavras).

Não pregunta ao rio
o caminho das águas,
salva apenas o fruto
da sua nudez.

Ainda que o amor ofídico
rasteje sob as tulipas,
a vida baila
                       até quando envenena.



14. Clivagem




Canto para renacer
na pedra
com a semente que o mar
roubou dos náufragos; canto
para repartir com a brisa
a lúdica sesmaria de palavra.

Um atlas abriu seus galhos
para acolher meus reinos:
uma geometría de farrapos;
um tigre com o sol entre as patas.

E sigo esse rio de letras
como se chão em chamas;
a poesía me despiu
para explodir com os astros. 




SALGADO MARANHÃO (José Salgado Santos, 1953, Caxias, Maranhão, Brasil)
De: "Ópera de naãos, Ópera de noes, Editorial Polibea, 2021
Traducción: Verónica Aranda
Enlaces: Carlos Alcorta
Envio de Carlos Alcorta
Imagen: Imirante

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